quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Mudança

      Não ter mais ciúmes, se apegar a objetos... É, a vida mostra. Nada é "meu", nem de mim mesma sou dona. Mudei ontem quando ele morreu. Eu chorei(sim, eu mesma, chorei muito, contei até carneiros, mas lembrei dele). Ele sabia que não tinha ciúmes dele, porque ele não era uma coisa, era uma pessoa. Eu sei, sou humana, erro, porém, acredito na interligação que tinha com ele, na conexão. No fato de eu não tocar mais piano, e ele não me perguntar nada, porque ele sabia que tinha um motivo.
     Minha irmã, a qual nem sabia que existia. Esta tocava piano também, e eu sem querer estava fazendo o mesmo que ela, isso me deixou frustrada. Quebrei copos, e ele não disse nada, ficou suspenso naquela linha que temos, não me abraçou, só me deixou comigo mesma. Quando voltou, contou-me uma história sobre os campos de uva. Ah, como eu amo este homem. Trouxe uma fatia de bolo, e nós dois comemos ele, escolhendo as uvas e apreciando uma a uma.
     Um dia ele me disse que quando era menor, tinha um caderno, escrito na sua frente: "Meu maior segredo." Ele nunca me explicou isso, ao certo, mas eu entendi tudo. Depois, antes dele ir embora, me deixou uma folha em branco perto da nossa cama. Mas ele sabia que eu não precisava disso pra saber, que tudo é nada. Que o segredo da vida é entender e saber que não tem nada escrito.


Alice Manuela de Siqueira Ramos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário