sexta-feira, 20 de julho de 2012

Cura


Eu transbordo e não me recordo.
Sou areia, sereia
De vidro que era,
Tendo a necessidade de ser primavera neste mundo.

Uma hora eu posso estar de um jeito
Ora tenho outro preceito.
Mas não são os mesmo olhos?

Eu vi, eu vejo.
Tudo vem na minha retina
Ela continua sendo a mesma?

Eu rasgo, esfolo, raspo, namoro.
Será que ela sente falta de quando podia transformar?
E, mesmo assim, na minha cabeça passa
Um passa-tempo.

Imutável? Transitório.
Aceitável? Concreto?
Só a parede do meu verso imerso
No fundo desta rede de dormir. 


Bruna Caznok.

#4


Angelo pensava que poderia ter algo nele
Sempre eu colocava seu nome e faltava um circunflexo.
Sabemos que era negra a pele dele
Com isso ele ficava perplexo.

Senhor feudal,
Liberdade condicional.
Nunca vou trocar por outro que não saiba acender a luz.
É a inteligência dele que nos cativa e seduz.

Ultrajante desinteressante,
Dançarino de valsas canhotas.
Impertinente, renitente.

Muito Raul para pouco Anginho,
É assim a sua vida.
E aí, oi, gatinho? 


Poema dedicado a Ang.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Desejável


Foi assim, veio bem devagar e me deixou – por uma semana – achando que eu ia morrer. Eu estava com febre, ficava mais branca do que eu já era. O asfalto dos meus olhos sem cor resplendia. Parecia que eu ia morrer.

Chegou, e ficou. Durou sete dias e mais, na verdade, já acabou, porém, continua. É como se eu estivesse sentada em uma cadeira e ela quase caísse, movimenta-se para vários lados, mas mantendo um equilíbrio, ou, tentando tê-lo. Nada me faz retornar a realidade, meu pensamento vive longe. 

É aquele bólido, ele veio. Dentro da minha cabeça não vive mais o abstrato, é sólido mesmo. É real. Ela morreu. Não eu. Aquela ideia. Aos poucos foi desaparecendo, fui voltando à vida. Mas sempre vai continuar o gosto amargo em baixo do travesseiro. Simples.



Bruna Caznok.