sábado, 31 de dezembro de 2011

Loucuras retóricas

Se você não acreditar, não tem porque os outros acreditarem. Não dá para depender. Começa e termina com você. Escolha direito o que seguir. Mas tente, se não der certo, vá em frente; busque sempre coisas novas. Se apegue, desapegue-se. Ame, brinque, lute, navegue, cresça, nasça todos os dias. Mas viva, faça algo, não fique parado; não afunde. Don't be afraid!

Bruna Caznok

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Dois mil e onze, dez e doze.


Fevereiro, era para ter carnaval, era? Não teve; se eu fiquei triste? Nem um pouco, em março voltou, trazendo com ele toda a sua beleza e marasmo. Eu prefiro mil vezes ouvir: “Vou nadar e morrer na beira da praia, se não tiver você...” do que ver essa festa trazendo alegria, e transformando-nos em pessoas melhores. É o pão e circo, ou melhor, o circo só, né? Preciso rever a minha concepção de mundo, já.

Tenho que mudar, do jeito que estou não dá mais; não vivo a minha vida direito, e não vejo tudo em amarelo. Pois é, será que me torno Raimundo? Tem um nome lindo, bem brasileiro, certeza que já sambou por aí. É, vou ser Raimundo. 

Passando por uma linha tênue entre a alegria e o retardadismo, corro contra o tempo, agora que sou o mundo, tenho muito para fazer e pouca vida para isso. Olhando-me no espelho do banheiro, conseguir ver a alma então minha; não tinha nada dentro, apenas pó, seco, úmido, colorido, transparente, um pó, de um velho sem alma, mas cheio de vida.

Andando pelas ruas imaginava vagarosamente pedras no chão, sons, sinfonias, melodias, rabiscos, corpos, e encontrei três homens chorando, agora que eu podia e não tinha medo, fui até eles, sentei ali. Chorei junto. Não porque estavam chorando, mas sim porque eu tinha visto o frio incontrolável da vida, a alma amarrotada, o sonho tornando-se um pesadelo interminável. 

Eu ia dialogar com eles, mas não tinha como fazer isso, não existiam forças que me levavam a poder fazer isso; e, por sinal, eles não falavam a minha língua. Por fora eu era um velho, entretanto, na consciência, era só uma mente inexperiente, de alguém amedrontada. Observando-lhes no fundo dos olhos, vi uma coisa – diferente da que via em mim – eu vi uma cor amarelada.

Agora pensei: “Não, você não pode deixar eles aí!” Eu sempre fugia de tudo, assustava-me, chorava. E eu apenas sorria pra eles. Elevei os meus pensamentos e fiquei sussurrando até gritar: “SIM!” Tomei-lhes pelas mãos e fomos até um bosque próximo.

            Dormimos lá. Acordamos com a réstia do sol, aquela que eu não percebia há tempos. O cheiro de laranjeira exalava pelo ar, o perfume de ervas era eminente. Logo percebi: algo mudou; tudo mudou. Verdadeiramente, estávamos na primavera, primavera amarela.   
         
            Acabou, terminou setembro. Não gosto desse mês, por mim, ele poderia ser excluído do calendário para sempre, e assim, você poderia voltar para mim. Esses dias são amargos, longos, tristes, vazio, escuro. Lembra-me o lobo, o esquecido que eu nunca vou esquecer. Posso tentar, mas sempre fica o “algo mais”, os reais sentidos.

            Ossos, só pensava nisso. Sob aquele céu perfeito, o sol queimava-nos, o bom foi a chuva que nos trouxe um conforto, misturando-se com um frio, e, ao mesmo tempo, com um calor. Eles já eram velhos, e eu, misteriosamente, estava igualmente sábia.

            Para mim, essa vida inteira só durou uma noite; para eles durou vários anos, os quais passávamos juntos, como amigos, um segurando a barra do outro. Eu não tinha recordações de nada, somente percebi que o meu vazio havia sumido, eu tinha só alegrias, toda a magia do tempo trouxe-me um bem estar inabalável. 

            Os homens, os quais conheciam bem o meu nome, estavam radiantes, o oposto de antigamente. Caminhando pela cidade, tudo mudara, nada era igual e eu, ah, eu me modifiquei. Todos desapareceram de perto de mim, eu nem me importava, eu já bastava.

            Fui descansar no bosque, entre as folhas lavadas de vento e chuva, com perfume de flor, e transformando tudo em um tempo renovador. Acordando na manhã seguinte, puxei meus cabelos que estavam presos em gravetos. Levantei, espreguicei-me, e fui caminhando até a cidade. 

            Chegando em casa, eu toda suja só com os pés limpos, entrei no meu quarto. Lá permaneci parada, imóvel, olhei a minha juventude refletida no espelho, mas a insegurança já não havia mais, e sim, só existia esperança de ajudar aqueles três homens que eram minha prisão, meus medos, e minha indiferença. 


Bruna Caznok

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Eu lírio


Agora, neste momento eu mesma pensei em desistir de tudo. Sim. Fechar portar, largar a mão, cuspir para os lados, não olhar mais o pôr do sol. Não queria mais ver a Lua, as estrelas. Todo o interesse que tinha por isso se perdeu, esqueceu de mim e eu esqueci-me dele. Não pensava na glória, no herói, em nada, só em desistir.

Não pensava mais em tentar. Foi como se pela porta da cozinha tivesse vazado todas as minhas cordas e eu não tinha mais como amarrar o que me deixava leve, então eu sentia repugnância. Toda a cantiga, este Natal chegando, exatamente tudo me dava um desprezo. Não queria mais saber de nada, estava pronta para excluir da minha vida, e não pensar mais no amarelo.

As asas e o pão de mel não tinham mais significado para mim. Eu via o objeto e mais nada, nenhuma doçura, nenhuma simplicidade ou inconstância, eu só via um pedaço de nada decorado, sem amor e sem verdade. Eu queria a verdade, mas ela é amarga e destrói qualquer coisa. A mentira é uma dama mais vulgar, complicada e fica no pé de quem a conta e tenta expulsá-la.

A dor parece ser o único caminho que vem da mentira e da verdade. As duas são ruins, as duas são boas. Nunca se sabe a reação que um ser humano terá com qualquer uma das citadas. E qualquer flor frágil, delicada, e apreciável pode ser esmagada por uma palavra, uma desconfiança, indecisão, ou verdade. Mas eu, eu sou a Rosa.

Estava seguro, amarrado, junto, enrolado, enozado com armadura e retalhos, aparentava ser forte e é. Não é com lembranças que haverá um futuro, mas nós somos formados delas e sempre, sempre vamos ter recordações. Se eu não acreditar em mim não tem quem acredite. Eu não vou desistir e vou seguir em frente, pois: “Escolha, entre todas elas, aquela que seu coração mais gostar, e persiga-a até o fim. Mesmo que ninguém compreenda.” 

Bruna Caznok

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

L de laxante


Assim como todos um dia devem também, eu encontrei a minha alma gêmea. Não foi muito difícil, foi simples, complicado, seco e amargo. O correu na quarta série do Ensino Fundamental. E, assim sendo, eu soube na hora, bem no instante que eu disse um verbo conjugado no pretérito mais-que-perfeito, e ele deu-me a sua régua com uma figurinha de signo - com o signo de gêmeos - como recompensa.

Num trocar de acorde eu conhecia mais do tal L. do que de mim. Adorávamos os chicletes de feijão, comer também o papel das gomas de mascar, e quem é que nunca falou com o Batman, né? Ah, seu apelido era shox, por causa do Nike Shox. Jogávamos bets, tínhamos até um tipo de aperto de mão conhecido só pela gente. Não, nesse tempo eu nem sabia o que era perder ele um só dia, como perco a cada hora que se atravessa na minha frente. Como todos os anos passam, foi-se um ano, dois anos, três anos, e aconteceu o momento mais horrível da minha caverna mágica: ele teve que ir para outro colégio. Eu fiquei completamente louca, tentei de todas as formas ir para essa escola, mas não deu certo. Vivíamos um pouco distante, já.

Trezentos e sessenta e cinco dias após isso, sua família mudou-se para outro Estado. E eu só pensava: “Vou largar tudo e partir para uma jornada correndo atrás dele. Só tenho que ter certeza de uma coisa. E, além do mais, eu não posso o deixar partir. Não!” Numa mistura de ácido e doce eu corri, subi escadas, desci rampas, fui, fui. Cheguei. E no mais falei: “Eu acredito que de alguma forma você seja meu outro eu. Você é o oposto de mim. Mas não, não quero nem sonhar em ficar longe...” Em uma pausa estridente ele desculpa-se, diz que nada deveria ser assim, mas foi como tinha que ser. Eu fiquei completamente paralisada, sem sentidos e deixei-o partir.

Chorei durante três dias e noites, sem fazer nada e sem parar. Conformei-me. Perdi tudo o que tinha e só vivia como uma velha repugnante. Porém, hoje tenho a esperança de um dia encontrá-lo novamente. Por que será que não quero mais viver onde vivo? Ir para aquela universidade? Qual o motivo? Inconscientemente e provavelmente a causa deve ser apenas uma: voltar para o que eu era, meu antigo eu e chegar até aquela felicidade inatingível da minha casa com flores vermelhas e os versos incompletos. 


Bruna Caznok

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Ritos de evocação 2






Na decomposição de cada passo que dou
Entristece-me a dor que eu sinto de cada lágrima,
Lágrima de um só olho que você observou.
Estou amarrada, estou enrolada nessas lástimas.

Já não sou mais livre como era,
Anteriormente e interiormente vivia uma extrema instigação,
Hoje vivo a espera,
Que soa no meu corpo clamando com aflição.

Cavalos, cavalos marinhos,
Não são mais azuis, nem vão ter meu carinho.
Não, não sou capaz.

Na face da minha verdadeira loucura,
Minh’alma exibe-se na relaxante arma salva.
Sim, agora eu não tenho amor e nunca mais. 


Alice Manuela de Siqueira Ramos.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Transcrições assinaladas com defeito

Eu encontrei o que não queria procurar. Procurei. Levou tempo, e tempo da minha vida. Passei por árvores, por esquilos, por vampiros, lobos, tradições, águas, luzes. Por esquinas, levantamento de mãos, quadros, amazonas, escritos, mensagens, sinos. Pelas rodas, rosas, pousadas, revanches, chás, lírios, cinzos. Por vermelhos, flores, gramas, canecas, Inglaterras, abraços, poemas. Rabiscos, inúteis. Brancos. Navios. Silêncio. Mas tudo, tudo isso fez falta para mim. Era o meu vazio, aquele que eu tinha, e ainda tenho. Porque elas foram, não estão aqui agora, entretanto, podem vir amanhã. Eu não ligo, não dá. Eu quero voltar pra isso, mas se voltar demais, eu vou ter perdido. E está aonde esse ‘isso’? No futuro. 

Sempre tive a sensação de estar presa no pretérito. Sim, naquele que foi e tinha certeza que nada seria melhor. “Só porque vivi essa abundância de alegrias e sensações, senti-me bem, fui feliz. Esse é o melhor dia de minha vida! ” Sin embargo, qualquer coisa muda. Eventos novos virão. Provavelmente, a primeira vez que aconteceu em sua vida uma coisa inacreditável e obliqua, vai marcar. Lembrará em cada momento ruim de sua existência, e virá um sorriso, nem que seja em forma de lágrimas. 

            É, este é o instante que me faltam palavras. Ainda não aprendi o significado de todas. Depois que acho o que eu busco e sei a formação que tem, seus detalhes, seus hábitos, eu não largo mais. Nem que eu agarre um número, símbolo, uma letra, palavra, um nome, mas nunca mais me desfaço disso. Fica guardado na minha mente, esperando o momento que vou usar. Misteriosamente, sempre encontro um caminho que me leva a ter a possibilidade de transferir as minhas ideias. Como, por exemplo, no ‘arregaçar’. Olhe, olhe, observe, crie laços, ambições e faça uma ponte onde tenha essa palavra. 
 
            Vou confessar, no início foi difícil, complicado demais. Demorei cerca de dois meses para colocá-la em uma frase, e criar todo um contexto e uma ligação iônica, mas deu certo. As ostras tiveram que ser arregaçados, sem danos, não movendo suas pérolas, e percebendo o Filo em geral. 

            O mar foi levando minhas agonias, meus medos, fracassos, dores e danos. Exatamente, cada coisa que se opunha a mim – e a todos – tornou-se segundo plano. Recebi a pior de todas as notícias, até agora, e foi normal. É lógico que temos que reivindicar, algo triste não pode ser comum. Porém aos poucos, minha boca fica amarga, às vezes, perco meus sentidos, mas tenho muito que fazer, ainda. E, como sei, falta-me coragem e tenho muita. Controle e concentração, ponderar. 


Bruna Caznok

Templários

Não sei, não sei o que é caminho,
Só sei que tudo está perdido.
Mesmo que a água fosse para beber.
Meu passado seria apenas meu.

E o som dos pássaros está mais alto.
Como o vento trouxe tudo que era desejado?
Sigo em cima do meu cavalo alado
Vendo em segundos o que eu via num naufrágio.

O que outrora era margem, hoje virou lago.
Meu sentimento é imensamente calmo, retilíneo, imenso, e desenhado.
Quanto foi que você deu pra te olharem assim?
Quando mesmo que você me olhou pela última vez?

Não sei, não sei o que é caminho
Só sei que tudo está perdido.
Mesmo que cada ar fosse meu último respirar.
Meu presente seria apenas teu.


Bruna Caznok

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Meu queijo desapareceu

           Como diria meu amigo Larry, e, também o Peter: “Vamos voltar para o ano de 1632.” Não eu, nem você, nem meu cachorro, e sim, todos nós. Imagine o cheiro que tinha, eu estou imaginando. Aquela coisa pútrida, marrom, branca, gelatinosa, dérmica, sangrenta, cristalizada, cicatrizada, mas nunca fechada. Eu estou pensando. Na verdade, sempre pensei nisso, não é algo novo, mas, algo mórbido. Para mim não é, para outros sim. É, já perguntei às pessoas, como quem não quer nada: “Recrie na sua mente essa cena.” Elas sempre ficavam dizendo: “Isso não é coisa que se pensa.” “Esqueça isso.” “Você está... Esquisita.”

Por exemplo, acidentes acontecem, sempre. Não que vá ocorrer alguma coisa, mas é uma possibilidade. E depois que se faz, tem que ter isso. Foi assim que descobriram a causa de doenças, gripes, então é comum. Eu acho normal. Nicolaes me entenderia. Ou não. Vai saber. Com o tempo, tornou-se uma ideia fixa transcorrente. Eu não conseguia ver gente sem observar esses traços, como poderia ser depois. Tudo isso.

            Um ladrãozinho teve toda a cena incumbida a ele. Veja e só terá o resultado de um sentido. O médico olhava para o horizonte, pedindo – quem sabe, a ajuda de um Deus, e com muito medo, quizá de fazer errado. Todos na sala olhavam, entretanto, existiam dois homens que não envergavam o corpo, ou, olhavam-no demais. Pareciam ser culpados, eu sentia isso. Um permanecia parado como se o homem não fosse um marginal, e sim esteve enrolado em uma emboscada e foi parar em cima de uma mesa. O outro, olhava para mim, e estava com o papel na mão, de anotações, como se ele fosse o verdadeiro culpado de tudo. Mas, ninguém tem culpa.

            Reavaliando toda uma ideia, e colocando em uma frase. Vendo a regência, buscando balbucios, perseguindo colocações indevidas, e ficando livre de qualquer dano aparente, é necessário comentar sobre isso. Estava esperando um advérbio de negação na frente, até eu queria que estivesse ali. Mas jamais. Se existir uma réstia de sol, ainda, não se pode provar o contrário. 

Enquanto isso, este odor de formol entrou no salão, fez resina, dançou, cambaleou, deixou amarga à boca. Ânsia. Não saiu, desde o dia que senti. Um dia talvez suma no pó. Muitas desventuras. Que nada, quem nunca foi em uma aula de anatomia, não é?

Bruna Caznok.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Como diria a chuva...

Escrever friamente, complicado. Ideias? Sim? Claro. Não apresentam fim, nem começo. E nunca vão acabar. Mesmo tudo que esteja no final, sempre se transforma. Mas cuidado, pode ser para melhor, ou, quem sabe, para pior. E o que digo? Não pense nisso. Tente. Não pode ser um fracassado sem tentar. E nunca será vitorioso, se não der uma chance para você, para vida, e para tudo. 7 3 7

domingo, 20 de novembro de 2011

Protocordados amados

Deitei ofegante na cama. Estava com indícios de dor no ouvido, dor de cabeça e quase uma dor de garganta. Já delirando de febre, pensei na Sara e no Johnny, o sentimento deles, aquela concentração molecular que havia entre eles, aquela corda que os amarravam. A ideia da menina doce e boa que ela era, e o eterno encantador e apaixonado que ele era, o qual não dava rosas, sim maças de amor. De tal amor que ansiavam, não puderam realizá-lo por completo, tiveram um empecilho, fizeram o que deveria ser feito. Foi só uma vez, depois seguiram suas vidas.

Mas, por que diabos eu pensei nisso? E por que, nesse momento, do nada, pequei um papel de um calendário e uma caneta da cadeira da minha avó, e estou escrevendo, anotando, quase fechando meus olhos, pois estou farta de tudo? Por quê? Oz sabe.

Só sei que depois disso me afundei por baixo dos cobertores, vi a ausência de todas as cores, sem pensamentos, uma fenda, o escuro. Sim, agora lembrei de fantasmas que rondavam e atormentavam a minha infância, Oz, Sr. Sequinho, Bruxa Pi, Gato Infame, entre outros milhões, e precisei escrever. Verdade, minhas mãos tremiam, meu dedo machucado doía, mas eu não queria parar, não. “Foi necessário!”

Apaga a luz sozinha. Medo. Sensação de dormência nos meus pés. Parece que com a visão perdi os outros sentidos, também. Somente segui presa em meus momentos que não me deixavam. Olhei a porta, mas como? Estava tudo escuro, entretanto, olhei-a. Vi, observei, calculei, persegui, procurei, encontrei. Estava na minha frente um gato, estranho, assombrado, nevoante, sombrio.

Esse gato era mágico e maravilhoso, e apenas olhava-me. Branco, enorme e tinha olhos avermelhados de 789-nt, uma droga usada para modificar geneticamente animais. Nada atormentava-me mais, fiquei calma com essa alma gélida, bandida e meiga que estava na minha frente.

Sentindo já que não aguentava mais, era quase impossível escrever, eu dormi. E nesse sono não sonhei, de tão cansada que estava, cansada da vida.


Bruna Caznok.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Visse! Que povo mais tirano, eu

“Vou mudar, ontem.” Desde que ouvi isso fiquei muito encucada. Escutei de mim mesma, peguei-me em sonhos ao pôr do sol. Não é por nada e sim por tudo, todos mudam, é natural esse fenômeno. “Natural?” – Exalou em minha mente. Sim, natural. Leva-nos a mutação, não vamos ser como éramos antes - e alguma forma-, com o tempo, seremos melhores, mais fortes, mais bons.

Quando li um conto chamado ‘Mutação’ fiquei extremamente viva, sim, muito viva. Não me lembro do autor, só do título e da história, que contava sobre um homem que acordou em seu casulo fazendo a ecdise (muda, troca de exoesqueleto). A cada estágio mudava, via-se de outra forma, sentia-se de outra forma, e o mundo, mudava com ele, porém, em algumas horas, o homem estava à frente do mundo.

Era uma morte simples, normal, abrupta, semelhante, desigual. Sem dor, e assim fechava-se um ciclo. Para ele, cada dia era uma nova forma de viver, um novo motivo para estar aí. Sons inusitados, cânticos independentes. Enfim, tudo mudara, mas detalhes permaneciam.

Para mim, era novidade. Eu, em minha plena rebeldia e desconhecimento do notável ser humano, não entendia quase nada. Buscava, e com isso, cheguei a uma conclusão: quero e vou nunca querer desistir. Imensidades seriam minhas, o ouro mais valioso estava só me esperando. Poderia sim, algum forasteiro conseguir antes, mas eu não faria manha, o horizonte já era meu.

Sabe quantos anos tinha? Minha idade menos quatro, quando li e iniciei isso. Por isso falo: “Eu comecei a viver quando observei essa masmorra que me cercava. Não só de uma forma literal, e sim, vi que tudo o que pensava era obsoleto, o que um dia foi bom, mas se transforma.” A sensação foi inesquecível, flutuante. Parece que sai do meu próprio "mundo com limites", e vi que deveria ligar para tudo, e, ao mesmo tempo, não ligar para nada. Se eu não fizer no agora, não tenho outro tempo para fazer. Nunca é tarde. Tudo é passageiro. Não há tempo. Há todo tempo do mundo. Trilharemos nesse momento o passado, presente e futuro, tendo sua arcada dentária.


Bruna Caznok.

domingo, 30 de outubro de 2011

Plenamente

Pensei soltando entusiasmo
Não sei o que me veio.
Sabendo que eu tenho sarcasmo,
Sim, meu lado feio.

Na imensidão
Descobri enfim,
Que não tenho medo da escuridão
Pois tenho te tenho perto de mim.
Que você seja,
A minha extrema riqueza
E eu aqui esteja,
Contemplando a sua beleza.

Senti um vento soprar
Plenamente.
Em meus ouvidos cantar
Colosalmente,
As cantigas que não escutara
Há muito tempo, voltaram
A embelezar
Aquele luar.

Porém você sabe
Que me resta a lembrança
De como era antes.
Deixando-me a esperança
Em meus pensamentos.
Como uma herança
De nossos ricos momentos.


Alice Manuela de Siqueira Ramos.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Manifestos de minha ignorância

Sabe quando você gosta - verdadeiramente e inebriantemente - de algo, mas muito, e parece que antes estava de olhos cerrados? Percebe-se que você está adorando isso, ou, sem falsas esperanças, somente é envolvido por isso, e finge que gosta, finge tão bem que acredita na sua mentira. E assim, leva, segue, deixa a vida te levar e a vida te leva.

Acreditando nessa mentira, um mundo inexistente forma-se, e isso pode ser bom. Mas o que é esse bom, ou esse ruim? Quem intitulou? Alguém foi às margens de um rio raso e disse: "Isso é bom, isso é ruim. Pronto!"? Subiu em cima de seu burrinho, com toda a sua plebe nobre e fez de nossas leis imaginárias um desastre? Não, pelo menos hoje existe sim a liberdade, ou era para ela estar aqui presente.

Bom, bom para mim é ver todos os dias a lua à noite. Subir no muro para catar das árvores frutos. Ver a energia, aquela que forma toda uma constelação de sentimentos jogados ao vento – miraculosamente e cuidadosamente -, para não cair, não se mover. Estar ali, mas a qualquer momento, posso tomar pelos braços e alcançar o infinito.

Ruim para mim é tirar algo das pessoas. Sim, no início é ruim, porém aos poucos se torna bom isso. Percebemos que aquilo deveria ser feito, sem desculpas, sem culpa, sem dó. De qualquer forma, é inevitável, é indesejável, mas é preciso.

Seremos sempre levados à linha tênue entre o desejável e o alterável, entretanto, serve para algo isso tudo, não ocorre por pura coincidência. Temos que dar o máximo de nós. No fim, tudo se encaixa, vira um rolo só, do filme da vida de cada um de nós, o qual pode ter a vida dos outros junto, amarrado, unido para sempre.

Bruna Caznok.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A mão

Pediu para imaginar, o que será que eu fiz? Revoguei, com certeza, não sou boba, sou nada, e não quero me sentir assim, acuada. Sonhar, palavra nova pra mim? Que nada, isso já se tornou rotina, assim, meu oficio. Faço isso desde quando? Desde que te reconheci, e nem parei mais de fazer isso. A cada dia que vem eu vejo a luz do sol bater, em notas, notas musicais, compondo uma harmonia, que vem naturalmente
até mim.

É, e quantas vezes eu já sonhei? Milhões, nem sei fazer as contas. Algumas caem no esquecimento, busco cada momento, mas sim, lembro. Não digo, calo-me, porque prefiro continuar aqui, no meu silêncio.

Quando digo que se queremos algo, independente de ser difícil (whatever o que for), conseguimos. Usamos toda a nossa força, toda a nossa fé, nossa vontade, e vencemos. Se não queremos, fingimos uma leve frustração, rimando com uma pequena animação, de que talvez um dia conseguiremos algo sem fazer esforço nenhum.

Uma vez eu quis tanto algo, mas tanto, que meu desejo se expandiu ao meu semelhante. Sim! Era a ele que eu queria que acreditasse em mim. Vivendo nesse sossego, e não lembrando mais do que era meu sonho. Vivi o que os outros almejavam, e perdi-me em desilusões, em uma busca incessante por aquilo que não era meu, e nem buscava.

Como devo terminar? Já sei, o que eu escrever é o que você quer ouvir ou o que você diria, e assim, sucessivamente. Au revoir.

Bruna Caznok.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Banjo no manjo do anjo

Um dia num manejo estranho veio um anjo

Que insistia em me revidar,

Com a cor dos olhos castanhos

Veio a me convidar.


Descendo à terra firme

Com o intuito de vencer,

De ser.

Pois tendo meu declive

O meu renascer.


Cheguei ao véu

De uma mãe,

Parecia estar no céu,

Num lindo jardim.

Sentindo assim,

Que eu estou aqui para ser alguém.


No mel de ser criança,

Doce mel,

Onde aprendi que o certo

E o certo.

O errado é um ponto de vista,

Tendo sempre ao longo do fel,

Aquelas pistas.


No banjo do acordar,

Olhar-me,

E apreciar,

Vendo que eu não sou mais quem era

Ou sou?


Eu estou sim,

Sem o que dizer,

Sem o que fazer.

Pois me vejo no espelho e não me reconheço.

Face que tinha não mais a tenho,

A sinceridade que existia eu perco.

Tomo-me pelo mundo,

E eu nem sou o Raimundo.


Bruna Caznok, 2009.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Devaneios fortificantes

Há um tempo, não muito distante, e nem muito próximo, uma professora disse-me uma coisa que acabou por ligar os pontos para mim, depois de um tempo: “As vírgulas em um texto são como sombras em um desenho. Tome cuidado para usá-las, tanto uma quanto outra, pode mudar tudo.”

Desde criança eu gostava de desenhar, pintar, dançar, escrever, e como qualquer mini petit, brincar também. Se me perguntassem o que eu amava fazer, era fácil responder: “Ah, adoro desenhar, escrever, é isso. É verdade, não posso esquecer que amo pular corda.” Minhas atividades diárias eram apenas essas mencionas, e, ia ao colégio, onde eu me sentia feliz aprendendo matemática, português, e artes.

A única coisa que sabia responder sobre ‘o que eu queria ser quando crescer’ era: “Professora.” Sempre tive orgulho de meus professores, nunca me senti menor em relação a eles, para mim, eu era igual a eles, uma aluna que queria seguir o exemplo deles, sempre com os olhos voltados para futuro, nem pensava muito no agora, só queria saber do amanhã.

Tinha como costume também dar nomes para coisas e ter amigos imaginários, que na verdade, era só um. Carroça era carrinho velho com cavalos, sorriso era mostrar dos dentes, minha mãe era mamão, e assim vai. Tive uma amiga imaginária, que até hoje não acredito muito nela, penso que seja algo criado por minha mente, ou sonhos. Qual será que era o nome da dama reluzente que me embalava para dormir? Bruxa π. Sim, era a bruxa 3,1415926..., não sei como, nem sabia a existência do número Pi, mas foi esse o nome que dei para minha defensora.

O mais estranho de tudo, era que ela emitia um som esquisito, parecido com: “Ha-Puf.” Toda vez que ouvia isso ficava com receio, e ao mesmo tempo, com um conforto. Ela cuidava-me de tudo, ouvia-me, e não falava nada. Sabe quando a vi? Nenhuma vez, só escutava esse som que exalava todo tempo em minha mente.

Perdi contanto com ela quando me liguei a estrangeiros de estepes. Não dormia mais em casa, e só pensava no ‘E.T., o Extraterrestre’. Foi uma parte de minha vida que me distancie de projetos literários, não tinha mais o mesmo prazer em fazer o que fazia anteriormente.

Mais ou menos, um ano eu voltei à vida. Tudo que me envolvia, e deixa-me longe do que eu gosto, ou acredito que gosto, foi embora. Com a abertura de minhas pálpebras e o mover de cada uma de minhas pestanas – pode-se dizer na guitarra, também -, está aqui, de novo, a Rosa.

Bruna Caznok.