segunda-feira, 19 de agosto de 2013

2003

     Usar a tua casa como a minha. Emprestar meu sapato para você. Apostar corrida para recolher cerejas. Depositar expectativas para um mundo novo com uma sandália prata linda. Subir, descer montanhas.
     Avistar você e dizer: "Esta mecha loira poderia ser um eventual sentimento meu. Percorrer entre seu rosto. Brincar com os seus olhos. E, às vezes, te fazer chorar." Você despejar em mim suas necessidades de um presente passado. Me dar a mão e enaltecer o meu paladar para falar: "Eu te amo." Mas você não quer ouvir. E eu. Ah, eu sou frívola. 
     Você me diz que vai escrever para mim. Rasgar a folha do meu diário e colar no seu epitáfio. Eu estremeço. Penso que queria e devia estar sempre do seu lado. "Será que você vai morrer antes mesmo de eu percorrer todas as regiões do seu corpo? Quero te conhecer por inteiro. Tirar de ti toda a minha fúria. Chamar tempestade. Riscar nas bases dos seus joelhos sentenças de canções que eu abomino. 'Será que você vai sabe o quanto penso em você, com o meu coração?' E eu que sou mais firme que uma pedra..." Eu pensava isso, toda vez que olhava para seus olhos todos os dias, e imaginava que eram outros, o de um novo eu seu.


Alice Manuela de Siqueira Ramos.

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