sábado, 28 de abril de 2012

Nada


Curto, longo. Chato, legal. Certo e errado. Útil e inútil. Mas é bom saber. Você só tem a você mesmo. Pode ter sol, sal, lua, açúcar. Entretanto, sobra você. E só falta você.


Bruna Caznok 

sábado, 21 de abril de 2012

Sonata


Alusão
Ilusão
Luminosidade
Menção               
Escuridão
Novidade
Tempestividade.


Bruna Caznok

domingo, 8 de abril de 2012

Emissão

(17/12/2011)

          Amputaram a sala de estar da minha casa. Um vento soprou, passou, entrou, pousou e ficou dentro da minha morada. Por fora, estava linda, normal, amarela como sempre. Algumas folhas recobriam todo o ar samaritano que existia, e extinguia a possibilidade de gerar algum sentimento de reconhecimento. Era amigável, familiar, feliz, bonita. Tinha todo um semblante de poder, força e ingenuidade. Cada telha foi posta com carinho, amor, estavam ali, ajeitadinhas, e com forças da natureza, algumas punham-se ao contrário, outras, tortas. Cada janela era um novo mundo que se abria para novas necessidades e posicionamentos. Existiam várias portas, porém a que mais importava – a da frente – estava toda quebrada, destruída, arruinada, fazia-se em pedaços minúsculos e quebradiços.

            Ainda externamente havia um luar, um dia nublado, poetas e demagogos. Cada passo no jardim aproximava o perigo. Internamente estava cheia de água, sangue, vitaminas, células, minerais, sentimentos, um vazio imenso, uma alegria inabalável, um coração palpável; e móveis, muitos móveis. Por fora era consistente o imóvel, entretanto, por dentro existiam goteiras profundas. As janelas estavam cobertas por panos, assim como as camas, sofás, instrumentos músicas, o computador, armários, mesas, escrivanias, cadeiras, baús, enfim, tudo. Menos uma coisa, a lareira, que tinha um fogo quente e incessantemente aceso.

            Estava escuro, só com aquela luz na sala, sendo a alma do negócio, um princípio hexagonal. O vento que entrara pela porta principal fazia uivos, gemidos e atazanava as outras portas, fazendo relinchares e estalos. Às vezes eu pressentia labaredas nas pontas dos panos brancos envolvendo quase a totalidade do recinto, talvez fossem resquícios de um futuro. Mas cada feno, cada palha, flor, folha avermelhada, prego, felpa, não estava presente mais ali. Era tudo limpo e branco. Houve uma formatação.

            Eu sentia o cheiro de carnificina, era pútrido, gélido, assombroso. E, ao mesmo tempo, instável, reconfortante. Correndo – na verdade – vagando por um caminho sem fim eu desci a escada, avermelhada, bem brilhante. Chegando ao seu fim, fui ao encontro do living de entrada da casa, a sala de estar. Era de lá que vinha aquele perfume que aparentemente parecia um odor. Nunca percebi que esse cômodo era tão grande, quadrado e sufocante. Não existia um só resíduo de pegadas ou fios. A máquina de escrever, a cadeira do vovô, o quadro da Monalisa, o mapa-múndi, o tapete lá da Arábia, exatamente tudo sumiu, desapareceu e nem pó virou.

            Sem sentidos sentei agachada, como se eu fosse um índio. Cruzei as pernas e os braços também, sentindo uma leve dor de cabeça, que não era nada tão indesejável. Lembrei de cada momento que passei ali, as coisas novas que aprendi as tardes de estudo, os pensamentos obscuros, os sinos tocando. Tudo. Quando me dei conta não havia mais porta ali e aquela caixa de fósforo estava cada vez mais diminuindo. Fiquei aprisionada em mim mesma, nas minhas memórias, e esqueci de tudo que ainda estava por aí. Foi um erro eu achar que voltando para o acabado eu pudesse voltar no que era antes. Por si só, eu tenho que reconstruir, da minha maneira, e da que eu vejo hoje.

            Tenho que juntar, e então formar um novo. Poderá ser inoculado novamente, mas eu não ligo, chances estão em cada dia que nasce. Sempre o sol se põe e volta. E a Lua, às vezes, está num dia de sol bem quente. E é só olhar pra ela que verá meus olhos refletindo seu brilho. 


Bruna Caznok

domingo, 1 de abril de 2012

Primeira Mentira


Sou artista,
Sou atriz.
Sou depressão,
Sou pressão.
Sou ele, ela, eles, elas;
Nós.
Tudo me irrita; nada me irrita.
Tudo me domina.
Sou constelação.


Bruna Caznok.