segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Martinei

     Eu sou uma pessoa muito fútil. Nos meus 32 anos de vida, apenas dissequei e disquei lagartos. Todos me dão medo. Minha alma soa vazia em meio a um mundo todo tão amarrado. Eu sempre fui filha única, mas tem a outra, a que faleceu. O que me apetece nisso é o fato de eu sempre ser obediente. Meu marido, quando estava vivo, costumava me dizer que eu era cobra criada, e me deixava sempre chorando prantos inacabados perto dos meus antigos diários, a quartos fechados. Ele sabia como era ruim ser incomodada quando a gente toma aquele banho quente e sai no frio pra descobrir que, mesmo estando cheia de opiniões e interesses, sonhos e gostos, morre e cai. É esquecida. Se torna folha velha e é removida da árvore.
     Eu sempre amei ele, meu antigo amor. Eu não sou romântica, mas ele, se eu me lamentava, ele saia de fininho, porque sabia que se chegasse perto de mim recebia um tiro no meio do rosto. Ele me entendia. E não era do tipo bonitão, nem do mais recatado. Era muito sincero, e atirado. Na época, estava deslocado, igual a mim.
     Não me lembro da cor dos olhos dele. E tenho várias fotografias, as quais estão nas portas do guarda roupas.
     Hoje estou bebendo um pouco de vinho, e o meu vizinho me acha maluca(ele me contou). Deitei na rede, e  avistei crianças correndo na chuva. Elas riram, riram pra mim. Oh, moço, você nem me deixou filhos...  Fui atrás destas. Andei junto, joguei água pro alto com elas. Me senti tão viva. Você sabe que, se mamãe estive aqui, não me deixaria sofrer tanto.


Alice Manuela de Siqueira Ramos.

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