Depois que dizem que nada tem relação, que você nem lembra de algo que
olhou mas não leu; não viu. Está aqui, na cabeça e nos pés, guardado tudo, mágoas,
medos, agonias, mentiras, verdades, amores, alegrias, sinceridades. Não é bem
uma ligação, mas é como falar de torta de maça que tem na realidade o intuito
de dizer: “Censura não, porra”.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Quintal #3
Ela nem pensava em outra coisa, só no dia que está marcado na sua
agenda, o que tem um asterisco grande ao lado, o que deveria ser uma estrela...
A menina nem sabe o que este ato realmente significou.
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ECT. Eu espero, pode crer. Mesmo que eu quisesse (e quero) ouvir hoje,
ou quem sabe, ler hoje, nem estou com vontade. Prefiro a ansiedade; o
nervosismo. Eu espero. Sigo sem rumo, dou o meu número e até a minha rua. Eu me
perco no parque, rio, escrevo, sou que nem pássaro. Eu espero, mesmo que seja
distante, que não exista nada além de uma exorbitante chance de isto não
acontecer. Tem a lua, tem estrelas. Há ainda a louça prateada e brilhante. Eu
espero, pois um dia chega manso, e nada prudente, e vem sem esperar.
Sou um dó, e nada além do que um pó de poesia. O poeta tem asas nas
mãos, mas na verdade, ele não precisa disso e nem espera isso. Pra que voar se
tudo o que ele realmente necessita está em cima de um telhado dançando e
mudando? O vento, eu espero. (Eu não sei se as janelas estavam abertas.)
Ps.: E que lembre do meu sobrenome.
domingo, 13 de maio de 2012
Quintal #2
Desatam-se os galhos das árvores. Cai toda a folha, flor. Vem você.
Apagam-se as luzes. Só sobra música.
O meu amar é uma variação de distração com distorção.
Você tem asas e não consegue carregá-las. Mas eu aguento.
Pra sobreviver.
***
O ser não é o ter. E sim o renascer.
Não poderia ser feito, nunca foi pensado, mas teve que ser feito. Já foi.
Nem mesmo minha utopia é melhor do que o sol se pondo.
O que resta é a aresta de tudo.
Imensamente imenso. Naufragável. Sem barco. Sem mar.
Eu naufragada, você fragata.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
13 do 13 de 2013 de 13
Depois do mar tem outro mar. Depois do além tem outro além. Há além,
meia. Meus tênis cantam melodias iônicas. Renascença seria a melhor
representação de mim, mas eu sou mais La Belle Époque. Jogo DS, subo em
cima dos teus pés e grito: “Revolução!”, faz diferença? Para mim sim. Entro
descalça no metrô; leio livros de autores saturados. Uso roupas de vidro. Vivo
no cortiço. Tenho uma cortina de palha e conchas. Distribuo rendas para chegar à
chuva. Caio, subo, entretanto, ainda escovo meus dentes. Às vezes, tenho medo
do nada, isso, ele vem de qualquer coisa, chega e leva meu café embora. Pulo em
escadas também, fazendo cerimônia de naufrágio.
Reescrevo com detalhes tudo o vem na minha caixinha de música. Dramatizo
cenas do pardal. Foi o que veio, é o que vai. Pé é que vai. É. Sou circo, só
não sou fotógrafa. É que finjo que sei. Você é parte de mim, eu não sou parte
de você. E ninguém quer saber, sou eu e só eu. Ah, eu sempre roubo chá de
joaninhas.
Bruna Caznok.
domingo, 6 de maio de 2012
Letargia
Até o sol pode
ser arrancado com o vento. Eu pus-me a esperar ele ser emaranhando para baixo
das montanhas, virar intransitivo. Arquibancada de lúdicos. Fiquei o dia
inteiro contemplando a beleza do céu, das nuvens, do vento, das árvores, da
luz, pela janela, é claro. Achei o muro da igreja da frente muito grande e
coloquei-me a tentar atirar pedras nas calçadas vizinhas. Visualizei todo
brilho que minha mão resplandecia as gotículas de chuva, o sol foi tirado, mas,
aos poucos, aparecia de vez em quando, e transformava meu sorriso em agonia.
Cheguei
a ver na minha franja um resquício de uma boca-de-leão, eu ri. Amassei com as
mãos flores que estavam entrelaçadas nas paredes externas da minha casa,
sentindo aquele cheiro de primavera. Ouvi o cantar dos pássaros, o chamado que
cada um recebia de si mesmo para cuidar do ninho de descendentes. Amarrei um
laço de fina nos meus cabelos que estavam sendo sacudidos pelo vento que trazia
a noite.
O sol se pôs, veio a
reminiscência dos dias seguintes misturados com as vezes que ainda não vivi. O
resplendor, o vazio sendo preenchido pelas belas danças feitas pelas estrelas
no céu. O jardim, as flores, o meu laço, tudo ficou escuro, mas vivo. Observei
o asfalto dos seus olhos sem cor. Entretanto, chegou o reflexo e a imagem da
minha espera, a Lua.
Bruna Caznok