Assim como
todos um dia devem também, eu encontrei a minha alma gêmea. Não foi muito
difícil, foi simples, complicado, seco e amargo. O correu na quarta série do
Ensino Fundamental. E, assim sendo, eu soube na hora, bem no instante que eu disse
um verbo conjugado no pretérito mais-que-perfeito, e ele deu-me a sua régua com
uma figurinha de signo - com o signo de gêmeos - como recompensa.
Num trocar de
acorde eu conhecia mais do tal L. do que de mim. Adorávamos os chicletes de
feijão, comer também o papel das gomas de mascar, e quem é que nunca falou com
o Batman, né? Ah, seu apelido era shox, por causa do Nike Shox. Jogávamos bets,
tínhamos até um tipo de aperto de mão conhecido só pela gente. Não, nesse tempo
eu nem sabia o que era perder ele um só dia, como perco a cada hora que se
atravessa na minha frente. Como todos os anos passam, foi-se um ano, dois anos,
três anos, e aconteceu o momento mais horrível da minha caverna mágica: ele
teve que ir para outro colégio. Eu fiquei completamente louca, tentei de todas
as formas ir para essa escola, mas não deu certo. Vivíamos um pouco distante,
já.
Trezentos e
sessenta e cinco dias após isso, sua família mudou-se para outro Estado. E eu
só pensava: “Vou largar tudo e partir para uma jornada correndo atrás dele. Só
tenho que ter certeza de uma coisa. E, além do mais, eu não posso o deixar
partir. Não!” Numa mistura de ácido e doce eu corri, subi escadas, desci
rampas, fui, fui. Cheguei. E no mais falei: “Eu acredito que de alguma forma
você seja meu outro eu. Você é o oposto de mim. Mas não, não quero nem sonhar
em ficar longe...” Em uma pausa estridente ele desculpa-se, diz que nada
deveria ser assim, mas foi como tinha que ser. Eu fiquei completamente
paralisada, sem sentidos e deixei-o partir.
Chorei durante
três dias e noites, sem fazer nada e sem parar. Conformei-me. Perdi tudo o que
tinha e só vivia como uma velha repugnante. Porém, hoje tenho a esperança de um
dia encontrá-lo novamente. Por que será que não quero mais viver onde vivo? Ir
para aquela universidade? Qual o motivo? Inconscientemente e provavelmente a
causa deve ser apenas uma: voltar para o que eu era, meu antigo eu e chegar até
aquela felicidade inatingível da minha casa com flores vermelhas e os versos
incompletos.
Bruna Caznok
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