domingo, 6 de maio de 2012

Letargia


Até o sol pode ser arrancado com o vento. Eu pus-me a esperar ele ser emaranhando para baixo das montanhas, virar intransitivo. Arquibancada de lúdicos. Fiquei o dia inteiro contemplando a beleza do céu, das nuvens, do vento, das árvores, da luz, pela janela, é claro. Achei o muro da igreja da frente muito grande e coloquei-me a tentar atirar pedras nas calçadas vizinhas. Visualizei todo brilho que minha mão resplandecia as gotículas de chuva, o sol foi tirado, mas, aos poucos, aparecia de vez em quando, e transformava meu sorriso em agonia.

            Cheguei a ver na minha franja um resquício de uma boca-de-leão, eu ri. Amassei com as mãos flores que estavam entrelaçadas nas paredes externas da minha casa, sentindo aquele cheiro de primavera. Ouvi o cantar dos pássaros, o chamado que cada um recebia de si mesmo para cuidar do ninho de descendentes. Amarrei um laço de fina nos meus cabelos que estavam sendo sacudidos pelo vento que trazia a noite.

O sol se pôs, veio a reminiscência dos dias seguintes misturados com as vezes que ainda não vivi. O resplendor, o vazio sendo preenchido pelas belas danças feitas pelas estrelas no céu. O jardim, as flores, o meu laço, tudo ficou escuro, mas vivo. Observei o asfalto dos seus olhos sem cor. Entretanto, chegou o reflexo e a imagem da minha espera, a Lua.


Bruna Caznok

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